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Google lança buscador com inteligência artificial no Brasil: impacto, oportunidades e desafios

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Imagem: Freepik

A gigante de Mountain View promoveu uma mudança histórica na maneira de pesquisar. Em 20 de agosto de 2025, durante um evento comemorativo pelos 20 anos de presença no país realizado em Belo Horizonte, o Google anunciou que a versão brasileira de seu buscador ganhará uma aba específica dedicada ao buscador com inteligência artificial. O novo “Modo IA” foi criado para fornecer respostas completas e contextualizadas a perguntas complexas e começará a funcionar gradualmente nas próximas semanas. Esta novidade, que chegou primeiro aos usuários dos Estados Unidos, Índia e Reino Unido, promete transformar a experiência de busca no Brasil. Ao combinar a eficiência de modelos de linguagem avançados com a tradição da pesquisa web, o buscador com inteligência artificial torna a navegação mais conversacional e intuitiva.

Contexto: 20 anos de Google no Brasil e a evolução da busca

A história da Busca do Google no Brasil começou em 2005, quando a companhia adquiriu a startup mineira Akwan, criada por professores da UFMG. Essa aquisição deu origem ao primeiro centro de engenharia do Google na América Latina, responsável por adaptar o buscador às características linguísticas e culturais do país. A empresa expandiu-se desde então, investindo em infraestrutura e capacitação local. Durante o evento de agosto, além do Modo IA, a empresa anunciou que o escritório de Belo Horizonte ganhará um novo andar com capacidade para 80 engenheiros e que um segundo centro de pesquisa será aberto em São Paulo em 2026. A comemoração de duas décadas reforça como a inovação constante é parte do DNA da companhia. A Busca, originalmente focada em listar páginas relevantes, evoluiu para incorporar respostas diretas (por meio do Knowledge Graph) e resumos gerados por IA, conhecidos como AI Overviews, lançados em 2024. O buscador com inteligência artificial amplia esse movimento ao oferecer respostas mais elaboradas, integradas e multimodais, aproximando a experiência de uma conversa.

O recurso já está em uso nos Estados Unidos desde maio de 2025 e em testes na Índia e no Reino Unido. Sua chegada ao Brasil simboliza uma confiança no nível de adoção de tecnologias emergentes pelo público brasileiro. Pesquisas mostram que seis em cada dez brasileiros acreditam que a IA transformará positivamente empregos e setores econômicos nos próximos cinco anos. Esse entusiasmo incentivou o Google a priorizar o país em suas estratégias globais de IA.

O que é o Modo IA e como funciona?

Diferentemente dos resumos automáticos (AI Overviews) que mostram um parágrafo informativo no topo dos resultados, o Modo IA oferece uma experiência conversacional completa. Ele utiliza uma versão dedicada do modelo Gemini 2.5, o mesmo modelo multimodal que alimenta o chatbot Gemini. A tecnologia é capaz de compreender e responder a consultas feitas por texto, voz ou imagens, e foi treinada para dividir questões complexas em subtópicos, pesquisá-los na web simultaneamente e compor uma resposta coesa. Essa técnica, chamada de ramificação de consultas, permite raciocínio avançado e respostas mais profundas.

No buscador com inteligência artificial, o usuário inicia uma pergunta complexa e recebe um parágrafo gerado por IA que já organiza as informações em ordem lógica, responde ao questionamento principal e insere links para sites confiáveis ao longo do texto. A presença de links diferenciados é uma das grandes preocupações do Google: a empresa enfatiza que sua missão continua sendo conectar usuários ao conteúdo da web. Para perguntas rápidas, o Modo IA fornecerá a resposta diretamente, mas para consultas mais complexas ele incentivará o usuário a explorar os links apresentados.

Principais características do Modo IA

  • Raciocínio avançado: o recurso utiliza algoritmos capazes de decompor perguntas em várias partes para pesquisar diferentes fontes em paralelo, retornando respostas mais completas.
  • Multimodalidade: é possível interagir com o buscador por texto, voz ou imagens. O sistema entende a consulta e responde com base no contexto.
  • Integração de links: mesmo que a resposta seja gerada por IA, o Modo IA apresenta links para sites de referência, blogs, vídeos ou guias, permitindo que o usuário aprofunde a pesquisa.
  • Sugestões de subtópicos: o Modo IA pode sugerir perguntas relacionadas ou tópicos adicionais para explorar, guiando o usuário por uma jornada de conhecimento.
  • Expansão do AI Overviews: Modo IA é considerado uma evolução do AI Overviews, mas ambos podem coexistir. Enquanto o Overviews resume rapidamente, o Modo IA oferece uma resposta mais detalhada e interativa.

Integração com serviços do Google e novas funcionalidades

Além de atuar como um buscador com inteligência artificial, o Modo IA está sendo interligado a vários produtos do ecossistema Google. Durante o evento, a companhia demonstrou como o recurso pode se conectar com Google Shopping e Google Mapas, permitindo que a IA exiba ofertas de produtos e sugestões de rotas turísticas dentro da própria resposta. Essa integração cria um ambiente mais rico e facilita a vida do usuário, que não precisa abrir várias guias para comparar preços ou traçar itinerários.

Outra novidade apresentada foi a integração do pagamento via Pix ao Google Lens e ao recurso Circule para Pesquisar. Com isso, será possível apontar a câmera para um QR Code e efetuar o pagamento diretamente pela Carteira do Google ou simplesmente circular a chave Pix na tela do celular para iniciar a transação. A empresa também anunciou a extensão de recursos de IA para o Google Lens, permitindo que o usuário realize consultas sobre o conteúdo visual em português e receba respostas instantâneas.

Em um contexto multimodal, essas funcionalidades mostram que o buscador com inteligência artificial é apenas uma peça de uma estratégia maior para transformar produtos do dia a dia. Imagine utilizar o smartphone para fotografar um item de decoração, perguntar quanto custa e, dentro da mesma interface, acessar lojas parceiras para compará-lo. Ou planejar uma viagem utilizando voz e receber itinerários detalhados, sugerindo hotéis e restaurantes próximos. Essas aplicações podem impulsionar o comércio eletrônico, reduzir etapas de compra e tornar as experiências de pesquisa mais naturais.

Oportunidades para negócios e marketing digital

Para profissionais de marketing digital e empreendedores, a chegada do buscador com inteligência artificial em português abre novas oportunidades. Em vez de apenas otimizar conteúdos para ranquear em uma lista de links, será preciso pensar em como contribuir para respostas geradas por IA. Conteúdos que respondem a perguntas complexas, apresentam dados atualizados e oferecem perspectivas únicas têm maior chance de serem citados. O vice‑presidente global de engenharia de busca do Google, Bruno Pôssas, explicou que o Modo IA foi projetado para permitir comparações de produtos, planejamento de viagens e pesquisas de “como fazer”. Essas tarefas geram fluxos de pesquisa mais profundos, nos quais links bem preparados continuam desempenhando papel fundamental.

Relatórios oficiais do Google mostram que a combinação de AI Overviews e AI Mode aumentou a satisfação dos usuários e gerou consultas mais longas e frequentes. Apesar do medo de queda no tráfego, o volume de cliques orgânicos permaneceu relativamente estável e a qualidade média dos cliques aumentou. A IA está incentivando usuários a buscar mais e a clicar em links para se aprofundar. Porém, sites que fornecem análises aprofundadas, opiniões autorais e conteúdos originais tendem a se beneficiar mais dessa mudança.

Para aproveitar o novo ambiente, recomenda-se que empresas e produtores de conteúdo:

  • Adaptem suas estratégias de SEO: além de otimizar para o ranking clássico, forneça conteúdos que respondam a perguntas de maneira aprofundada e estruturada.
  • Use dados estruturados e schema markup: essas marcações ajudam a IA a entender melhor o contexto, aumentando a probabilidade de seu conteúdo ser referenciado como fonte confiável.
  • Invistam em conteúdo multimídia: inserir imagens, vídeos e tabelas interativas torna o conteúdo mais completo e aumenta a relevância para a experiência multimodal do buscador.
  • Mantenham atualizações constantes: a IA busca fontes atualizadas. Manter dados, preços e estatísticas recentes aumenta a chance de aparecer nas respostas.
  • Conectem‑se a novos formatos de anúncio: com a integração ao Shopping e Mapas, as campanhas de anúncios podem se tornar mais contextuais. Analisar como sua marca é exibida dentro dessas respostas pode gerar leads qualificados.

Impacto no tráfego e preocupações dos editores

Apesar das oportunidades, editores de conteúdo e veículos de comunicação manifestaram preocupação. Reportagens apontam que as empresas que dependem de tráfego orgânico podem ver redução no número de cliques quando as respostas geradas por IA já atendem à necessidade do usuário. Dados recentes mostram que alguns sites perderam mais de 50 % de seu tráfego orgânico após a ascensão da IA generativa, e pesquisas indicam que, quando os usuários visualizam um resumo de IA, a probabilidade de clicarem em links externos cai de 15 % para 8 %. Esse cenário sugere que a indústria precisa repensar modelos de monetização e diversificar canais.

O Google reconhece a preocupação e argumenta que está investindo em mecanismos para destacar conteúdo de qualidade. A empresa afirma que treina seus modelos para reconhecer quando citar fontes e exibir links em destaque. Além disso, o Modo IA não é exibido para todas as consultas e deve ser liberado progressivamente. O recurso aparecerá à esquerda das abas “Notícias”, “Vídeos” e “Imagens” na página de resultados, facilitando a alternância entre o modo tradicional e o modo de IA.

Essa abordagem gradativa permite que o Google monitore a experiência, ajuste modelos e receba feedback da comunidade. Para os editores, a adaptação passa por reforçar a produção de conteúdo especializado e investir em estratégias de fidelização direta (como newsletters e comunidades próprias) para reduzir a dependência de tráfego de busca. A mudança também pode incentivar o fortalecimento de conteúdos originais e localizados, que respondam questões específicas que a IA ainda não abrange completamente.

Aplicações práticas e estudos de caso

Planejamento de viagens e lazer

Um exemplo prático do buscador com inteligência artificial é o planejamento de viagens. Ao digitar “planeje uma viagem de duas semanas pelo Nordeste em janeiro com orçamento de 10 mil reais”, o Modo IA pode listar destinos adequados ao verão, estimar preços de passagens e hospedagens, sugerir praias ou parques e inserir links para sites de viagens. Em vez de abrir inúmeras abas, o usuário recebe uma visão geral estruturada e pode clicar em links para finalizar reservas. A integração com o Google Mapas pode propor roteiros, enquanto o Shopping fornece ofertas de pacotes turísticos. Para empreendedores de turismo, essa dinâmica exige que suas páginas e promoções estejam adaptadas ao formato multimodal e que usem linguagem clara, pois a IA extrai trechos para compor a resposta.

Comparação de produtos

Imagine um consumidor pesquisando “qual notebook de até R$ 5 mil oferece melhor desempenho para edição de vídeo?”. O Modo IA analisará as principais opções, exibirá um resumo com recomendações e incluirá links para reviews, fichas técnicas e lojas. Além disso, o usuário poderá visualizar preços do Shopping dentro da própria resposta. Para lojas de e‑commerce, é fundamental fornecer informações detalhadas e atualizadas sobre os produtos e utilizar dados estruturados como rich snippets de avaliações, compatibilidade e preços. Isso aumenta a probabilidade de aparecer nas sugestões do buscador.

Pagamentos por Pix via Lens

Outra aplicação interessante é a integração do pagamento via Pix. Conforme anunciado pelo Google, será possível abrir o Google Lens, apontar a câmera para um QR Code ou circular a chave Pix na tela do celular e efetuar o pagamento sem sair da interface do buscador. Para empresas, essa funcionalidade simplifica o checkout e pode reduzir o abandono de carrinho. Restaurantes e lojas físicas podem incluir QR Codes em suas vitrines ou cardápios, permitindo que o cliente pesquise informações sobre o produto e pague instantaneamente via Pix.

Ensino e pesquisa

Estudantes e pesquisadores também poderão se beneficiar. Perguntas como “exemplos de algoritmos de aprendizado de máquina utilizados na previsão de clima” serão respondidas com explicações, exemplos, gráficos e links para artigos científicos. Professores podem usar a ferramenta para planejar aulas ou criar roteiros de estudos. No entanto, é importante analisar criticamente as respostas e consultar as fontes indicadas, pois a IA sintetiza conteúdos existentes e pode omitir nuances.

Expansão do ecossistema e desenvolvimento local

O lançamento do buscador com inteligência artificial no Brasil vem acompanhado de investimentos em infraestrutura e capacitação. Além da ampliação do escritório de Belo Horizonte e da criação de um segundo centro de pesquisa em São Paulo, o Google anunciou parcerias com universidades e programas de formação. Mais de 3 milhões de pequenos empreendedores deverão receber treinamento em IA e nuvem até 2026 por meio de programas como a Gemini Academy. A presença de um centro de engenharia dedicado à IA no país pode acelerar o desenvolvimento de soluções localizadas, adaptadas à cultura e ao idioma brasileiros.

A expansão também abre oportunidades de emprego em áreas como processamento de linguagem natural, engenharia de dados e segurança cibernética. Para profissionais de tecnologia, o Modo IA representa uma plataforma para criar experiências inovadoras e desenvolver aplicações que se integrem ao ecossistema Google.

Desafios e considerações éticas

Apesar das possibilidades, a adoção de um buscador com inteligência artificial traz desafios. Um deles é o risco de dependência excessiva da IA para obter informações, o que pode reduzir a diversidade de vozes e opiniões. Há também preocupações com viés algorítmico — como garantir que as respostas não reflitam parcialidades indesejadas? O Google afirma que treina seus modelos com atenção à imparcialidade e que a inclusão de links e citações permite ao usuário verificar as fontes. Mesmo assim, organizações de direitos digitais alertam para a necessidade de auditorias independentes e transparência nos critérios de seleção de fontes.

Outro ponto sensível é a monetização. Como o buscador integra anúncios e recomendações de produtos, há risco de influenciar escolhas de maneira indireta. Profissionais de marketing precisam equilibrar a criação de conteúdo informativo com estratégias de publicidade ética, evitando práticas invasivas ou enganosas.

Por fim, é crucial lembrar que a IA responde com base em informações disponíveis; portanto, conteúdos desatualizados ou incorretos podem ser propagados. Usuários e criadores devem cultivar pensamento crítico, checar datas e contextos e não substituir fontes confiáveis por respostas automáticas.

Conclusão e próximos passos

O anúncio do Google de que, em poucas semanas, o buscador com inteligência artificial estará disponível para usuários brasileiros marca um novo capítulo na história da pesquisa online no país. Apoiado pelo modelo multimodal Gemini 2.5 e pela técnica de ramificação de consultas, o Modo IA promete respostas mais profundas e personalizadas, integrando texto, voz, imagem e links. A novidade chega no momento em que o Google celebra 20 anos de operações no Brasil e reforça seu compromisso com o desenvolvimento local.

Para profissionais de tecnologia, marketing digital e empreendedores, o Modo IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio. Oportunidade, porque abre canais para alcançar públicos qualificados e facilita tarefas complexas como comparações de produtos e planejamento de viagens. Desafio, porque exige adaptação das estratégias de conteúdo e publicidade, além de atenção às métricas de tráfego e à qualidade das fontes.

Nos próximos meses, à medida que o recurso for liberado gradativamente, será essencial acompanhar métricas, analisar como as respostas geradas pela IA impactam o comportamento de busca e ajustar estratégias. Investir em conteúdo profundo, multimídia e estruturado, além de fortalecer canais diretos com os clientes, será fundamental para aproveitar ao máximo o buscador com inteligência artificial. Ao mesmo tempo, debates sobre privacidade, imparcialidade e sustentabilidade do ecossistema de mídia devem continuar. Com equilíbrio entre inovação e responsabilidade, o Brasil tem a chance de liderar a próxima fase da web, na qual inteligência artificial e informação caminham de mãos dadas para tornar a busca por conhecimento mais rica, relevante e acessível a todos.

Tags: Google Brasil, Inovação, Inteligência Artificial, Marketing Digital, Modo IA
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Contexto: 20 anos de Google no Brasil e a evolução da busca

A história da Busca do Google no Brasil começou em 2005, quando a companhia adquiriu a startup mineira Akwan, criada por professores da UFMG. Essa aquisição deu origem ao primeiro centro de engenharia do Google na América Latina, responsável por adaptar o buscador às características linguísticas e culturais do país. A empresa expandiu-se desde então, investindo em infraestrutura e capacitação local. Durante o evento de agosto, além do Modo IA, a empresa anunciou que o escritório de Belo Horizonte ganhará um novo andar com capacidade para 80 engenheiros e que um segundo centro de pesquisa será aberto em São Paulo em 2026. A comemoração de duas décadas reforça como a inovação constante é parte do DNA da companhia. A Busca, originalmente focada em listar páginas relevantes, evoluiu para incorporar respostas diretas (por meio do Knowledge Graph) e resumos gerados por IA, conhecidos como AI Overviews, lançados em 2024. O buscador com inteligência artificial amplia esse movimento ao oferecer respostas mais elaboradas, integradas e multimodais, aproximando a experiência de uma conversa.

O recurso já está em uso nos Estados Unidos desde maio de 2025 e em testes na Índia e no Reino Unido. Sua chegada ao Brasil simboliza uma confiança no nível de adoção de tecnologias emergentes pelo público brasileiro. Pesquisas mostram que seis em cada dez brasileiros acreditam que a IA transformará positivamente empregos e setores econômicos nos próximos cinco anos. Esse entusiasmo incentivou o Google a priorizar o país em suas estratégias globais de IA.

O que é o Modo IA e como funciona?

Diferentemente dos resumos automáticos (AI Overviews) que mostram um parágrafo informativo no topo dos resultados, o Modo IA oferece uma experiência conversacional completa. Ele utiliza uma versão dedicada do modelo Gemini 2.5, o mesmo modelo multimodal que alimenta o chatbot Gemini. A tecnologia é capaz de compreender e responder a consultas feitas por texto, voz ou imagens, e foi treinada para dividir questões complexas em subtópicos, pesquisá-los na web simultaneamente e compor uma resposta coesa. Essa técnica, chamada de ramificação de consultas, permite raciocínio avançado e respostas mais profundas.

No buscador com inteligência artificial, o usuário inicia uma pergunta complexa e recebe um parágrafo gerado por IA que já organiza as informações em ordem lógica, responde ao questionamento principal e insere links para sites confiáveis ao longo do texto. A presença de links diferenciados é uma das grandes preocupações do Google: a empresa enfatiza que sua missão continua sendo conectar usuários ao conteúdo da web. Para perguntas rápidas, o Modo IA fornecerá a resposta diretamente, mas para consultas mais complexas ele incentivará o usuário a explorar os links apresentados.

Principais características do Modo IA

  • Raciocínio avançado: o recurso utiliza algoritmos capazes de decompor perguntas em várias partes para pesquisar diferentes fontes em paralelo, retornando respostas mais completas.
  • Multimodalidade: é possível interagir com o buscador por texto, voz ou imagens. O sistema entende a consulta e responde com base no contexto.
  • Integração de links: mesmo que a resposta seja gerada por IA, o Modo IA apresenta links para sites de referência, blogs, vídeos ou guias, permitindo que o usuário aprofunde a pesquisa.
  • Sugestões de subtópicos: o Modo IA pode sugerir perguntas relacionadas ou tópicos adicionais para explorar, guiando o usuário por uma jornada de conhecimento.
  • Expansão do AI Overviews: Modo IA é considerado uma evolução do AI Overviews, mas ambos podem coexistir. Enquanto o Overviews resume rapidamente, o Modo IA oferece uma resposta mais detalhada e interativa.

Integração com serviços do Google e novas funcionalidades

Além de atuar como um buscador com inteligência artificial, o Modo IA está sendo interligado a vários produtos do ecossistema Google. Durante o evento, a companhia demonstrou como o recurso pode se conectar com Google Shopping e Google Mapas, permitindo que a IA exiba ofertas de produtos e sugestões de rotas turísticas dentro da própria resposta. Essa integração cria um ambiente mais rico e facilita a vida do usuário, que não precisa abrir várias guias para comparar preços ou traçar itinerários.

Outra novidade apresentada foi a integração do pagamento via Pix ao Google Lens e ao recurso Circule para Pesquisar. Com isso, será possível apontar a câmera para um QR Code e efetuar o pagamento diretamente pela Carteira do Google ou simplesmente circular a chave Pix na tela do celular para iniciar a transação. A empresa também anunciou a extensão de recursos de IA para o Google Lens, permitindo que o usuário realize consultas sobre o conteúdo visual em português e receba respostas instantâneas.

Em um contexto multimodal, essas funcionalidades mostram que o buscador com inteligência artificial é apenas uma peça de uma estratégia maior para transformar produtos do dia a dia. Imagine utilizar o smartphone para fotografar um item de decoração, perguntar quanto custa e, dentro da mesma interface, acessar lojas parceiras para compará-lo. Ou planejar uma viagem utilizando voz e receber itinerários detalhados, sugerindo hotéis e restaurantes próximos. Essas aplicações podem impulsionar o comércio eletrônico, reduzir etapas de compra e tornar as experiências de pesquisa mais naturais.

Oportunidades para negócios e marketing digital

Para profissionais de marketing digital e empreendedores, a chegada do buscador com inteligência artificial em português abre novas oportunidades. Em vez de apenas otimizar conteúdos para ranquear em uma lista de links, será preciso pensar em como contribuir para respostas geradas por IA. Conteúdos que respondem a perguntas complexas, apresentam dados atualizados e oferecem perspectivas únicas têm maior chance de serem citados. O vice‑presidente global de engenharia de busca do Google, Bruno Pôssas, explicou que o Modo IA foi projetado para permitir comparações de produtos, planejamento de viagens e pesquisas de “como fazer”. Essas tarefas geram fluxos de pesquisa mais profundos, nos quais links bem preparados continuam desempenhando papel fundamental.

Relatórios oficiais do Google mostram que a combinação de AI Overviews e AI Mode aumentou a satisfação dos usuários e gerou consultas mais longas e frequentes. Apesar do medo de queda no tráfego, o volume de cliques orgânicos permaneceu relativamente estável e a qualidade média dos cliques aumentou. A IA está incentivando usuários a buscar mais e a clicar em links para se aprofundar. Porém, sites que fornecem análises aprofundadas, opiniões autorais e conteúdos originais tendem a se beneficiar mais dessa mudança.

Para aproveitar o novo ambiente, recomenda-se que empresas e produtores de conteúdo:

  • Adaptem suas estratégias de SEO: além de otimizar para o ranking clássico, forneça conteúdos que respondam a perguntas de maneira aprofundada e estruturada.
  • Use dados estruturados e schema markup: essas marcações ajudam a IA a entender melhor o contexto, aumentando a probabilidade de seu conteúdo ser referenciado como fonte confiável.
  • Invistam em conteúdo multimídia: inserir imagens, vídeos e tabelas interativas torna o conteúdo mais completo e aumenta a relevância para a experiência multimodal do buscador.
  • Mantenham atualizações constantes: a IA busca fontes atualizadas. Manter dados, preços e estatísticas recentes aumenta a chance de aparecer nas respostas.
  • Conectem‑se a novos formatos de anúncio: com a integração ao Shopping e Mapas, as campanhas de anúncios podem se tornar mais contextuais. Analisar como sua marca é exibida dentro dessas respostas pode gerar leads qualificados.

Impacto no tráfego e preocupações dos editores

Apesar das oportunidades, editores de conteúdo e veículos de comunicação manifestaram preocupação. Reportagens apontam que as empresas que dependem de tráfego orgânico podem ver redução no número de cliques quando as respostas geradas por IA já atendem à necessidade do usuário. Dados recentes mostram que alguns sites perderam mais de 50 % de seu tráfego orgânico após a ascensão da IA generativa, e pesquisas indicam que, quando os usuários visualizam um resumo de IA, a probabilidade de clicarem em links externos cai de 15 % para 8 %. Esse cenário sugere que a indústria precisa repensar modelos de monetização e diversificar canais.

O Google reconhece a preocupação e argumenta que está investindo em mecanismos para destacar conteúdo de qualidade. A empresa afirma que treina seus modelos para reconhecer quando citar fontes e exibir links em destaque. Além disso, o Modo IA não é exibido para todas as consultas e deve ser liberado progressivamente. O recurso aparecerá à esquerda das abas “Notícias”, “Vídeos” e “Imagens” na página de resultados, facilitando a alternância entre o modo tradicional e o modo de IA.

Essa abordagem gradativa permite que o Google monitore a experiência, ajuste modelos e receba feedback da comunidade. Para os editores, a adaptação passa por reforçar a produção de conteúdo especializado e investir em estratégias de fidelização direta (como newsletters e comunidades próprias) para reduzir a dependência de tráfego de busca. A mudança também pode incentivar o fortalecimento de conteúdos originais e localizados, que respondam questões específicas que a IA ainda não abrange completamente.

Aplicações práticas e estudos de caso

Planejamento de viagens e lazer

Um exemplo prático do buscador com inteligência artificial é o planejamento de viagens. Ao digitar “planeje uma viagem de duas semanas pelo Nordeste em janeiro com orçamento de 10 mil reais”, o Modo IA pode listar destinos adequados ao verão, estimar preços de passagens e hospedagens, sugerir praias ou parques e inserir links para sites de viagens. Em vez de abrir inúmeras abas, o usuário recebe uma visão geral estruturada e pode clicar em links para finalizar reservas. A integração com o Google Mapas pode propor roteiros, enquanto o Shopping fornece ofertas de pacotes turísticos. Para empreendedores de turismo, essa dinâmica exige que suas páginas e promoções estejam adaptadas ao formato multimodal e que usem linguagem clara, pois a IA extrai trechos para compor a resposta.

Comparação de produtos

Imagine um consumidor pesquisando “qual notebook de até R$ 5 mil oferece melhor desempenho para edição de vídeo?”. O Modo IA analisará as principais opções, exibirá um resumo com recomendações e incluirá links para reviews, fichas técnicas e lojas. Além disso, o usuário poderá visualizar preços do Shopping dentro da própria resposta. Para lojas de e‑commerce, é fundamental fornecer informações detalhadas e atualizadas sobre os produtos e utilizar dados estruturados como rich snippets de avaliações, compatibilidade e preços. Isso aumenta a probabilidade de aparecer nas sugestões do buscador.

Pagamentos por Pix via Lens

Outra aplicação interessante é a integração do pagamento via Pix. Conforme anunciado pelo Google, será possível abrir o Google Lens, apontar a câmera para um QR Code ou circular a chave Pix na tela do celular e efetuar o pagamento sem sair da interface do buscador. Para empresas, essa funcionalidade simplifica o checkout e pode reduzir o abandono de carrinho. Restaurantes e lojas físicas podem incluir QR Codes em suas vitrines ou cardápios, permitindo que o cliente pesquise informações sobre o produto e pague instantaneamente via Pix.

Ensino e pesquisa

Estudantes e pesquisadores também poderão se beneficiar. Perguntas como “exemplos de algoritmos de aprendizado de máquina utilizados na previsão de clima” serão respondidas com explicações, exemplos, gráficos e links para artigos científicos. Professores podem usar a ferramenta para planejar aulas ou criar roteiros de estudos. No entanto, é importante analisar criticamente as respostas e consultar as fontes indicadas, pois a IA sintetiza conteúdos existentes e pode omitir nuances.

Expansão do ecossistema e desenvolvimento local

O lançamento do buscador com inteligência artificial no Brasil vem acompanhado de investimentos em infraestrutura e capacitação. Além da ampliação do escritório de Belo Horizonte e da criação de um segundo centro de pesquisa em São Paulo, o Google anunciou parcerias com universidades e programas de formação. Mais de 3 milhões de pequenos empreendedores deverão receber treinamento em IA e nuvem até 2026 por meio de programas como a Gemini Academy. A presença de um centro de engenharia dedicado à IA no país pode acelerar o desenvolvimento de soluções localizadas, adaptadas à cultura e ao idioma brasileiros.

A expansão também abre oportunidades de emprego em áreas como processamento de linguagem natural, engenharia de dados e segurança cibernética. Para profissionais de tecnologia, o Modo IA representa uma plataforma para criar experiências inovadoras e desenvolver aplicações que se integrem ao ecossistema Google.

Desafios e considerações éticas

Apesar das possibilidades, a adoção de um buscador com inteligência artificial traz desafios. Um deles é o risco de dependência excessiva da IA para obter informações, o que pode reduzir a diversidade de vozes e opiniões. Há também preocupações com viés algorítmico — como garantir que as respostas não reflitam parcialidades indesejadas? O Google afirma que treina seus modelos com atenção à imparcialidade e que a inclusão de links e citações permite ao usuário verificar as fontes. Mesmo assim, organizações de direitos digitais alertam para a necessidade de auditorias independentes e transparência nos critérios de seleção de fontes.

Outro ponto sensível é a monetização. Como o buscador integra anúncios e recomendações de produtos, há risco de influenciar escolhas de maneira indireta. Profissionais de marketing precisam equilibrar a criação de conteúdo informativo com estratégias de publicidade ética, evitando práticas invasivas ou enganosas.

Por fim, é crucial lembrar que a IA responde com base em informações disponíveis; portanto, conteúdos desatualizados ou incorretos podem ser propagados. Usuários e criadores devem cultivar pensamento crítico, checar datas e contextos e não substituir fontes confiáveis por respostas automáticas.

Conclusão e próximos passos

O anúncio do Google de que, em poucas semanas, o buscador com inteligência artificial estará disponível para usuários brasileiros marca um novo capítulo na história da pesquisa online no país. Apoiado pelo modelo multimodal Gemini 2.5 e pela técnica de ramificação de consultas, o Modo IA promete respostas mais profundas e personalizadas, integrando texto, voz, imagem e links. A novidade chega no momento em que o Google celebra 20 anos de operações no Brasil e reforça seu compromisso com o desenvolvimento local.

Para profissionais de tecnologia, marketing digital e empreendedores, o Modo IA representa tanto uma oportunidade quanto um desafio. Oportunidade, porque abre canais para alcançar públicos qualificados e facilita tarefas complexas como comparações de produtos e planejamento de viagens. Desafio, porque exige adaptação das estratégias de conteúdo e publicidade, além de atenção às métricas de tráfego e à qualidade das fontes.

Nos próximos meses, à medida que o recurso for liberado gradativamente, será essencial acompanhar métricas, analisar como as respostas geradas pela IA impactam o comportamento de busca e ajustar estratégias. Investir em conteúdo profundo, multimídia e estruturado, além de fortalecer canais diretos com os clientes, será fundamental para aproveitar ao máximo o buscador com inteligência artificial. Ao mesmo tempo, debates sobre privacidade, imparcialidade e sustentabilidade do ecossistema de mídia devem continuar. Com equilíbrio entre inovação e responsabilidade, o Brasil tem a chance de liderar a próxima fase da web, na qual inteligência artificial e informação caminham de mãos dadas para tornar a busca por conhecimento mais rica, relevante e acessível a todos.

Tags: Google Brasil, Inovação, Inteligência Artificial, Marketing Digital, Modo IA
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